terça-feira, 29 de março de 2011

Pesquisa sobre a Cultura Popular iniciada por Mário de Andrade ainda serve de inspiração

A Missão de Pesquisas Folclóricas Hoje foi o tema da aula ministrada pela professora titular da USP, Flávia Camargo Toni (mestra, doutora, livre-docente, pesquisadora e curadora no Instituto de Estudos Brasileiros-IEB), no ultimo sábado, 26/3, no espaço Debates, do Centro Cultural São Paulo(CCSP).

A apresentação foi acompanhada pelo elenco de O Grande Grito, peça em cartaz no CCSP, sua autora Gabriela Rabelo e o diretor José Renato, além de outros amigos e convidados. Durante sua apresentação, a professora Flávia afirmou não ter dúvidas do interesse que o material cuidadosamente apurado durante a Missão de Pesquisas Folclóricas gera nas diversas classes artísticas, em outros pesquisadores e no público em geral.
Parte do material recolhido durante a Missão de Pesquisas Folclóricas (foto:Luiz Saia)
De acordo com sua tese, Mário de Andrade deu ao grupo de pesquisadores que partiu em direção ao Norte e Nordeste do Brasil, em fevereiro de 1938, vasto campo de pesquisa e, bom articulador que era, facilitou a entrada dele em várias cidades, onde já havia mantido contato com amigos, etc.

A Professora Flávia frisou a qualidade da equipe que compunha a Missão de Pesquisas Folclóricas e falou da capacidade profissional e técnica de cada um dos participantes: Luiz Saia, técnico geral e que havia cursado aulas de Etnografia e Folclore (ministradas por Dina Levi-Strauss, no Depto de Cultura, 1936); Martin Braunwieser, músico, que era quem decidia o que deveria ser gravado; Benedito Pacheco, técnico em gravação e Antonio Ladeira, técnico que também ajudava nas gravações e transporte do material fonográfico, fotográfico e câmeras cinematográficas.

Registro de ritos e canções tradicionais na Paraíba(foto: Luiz Saia)
Para a professora Flávia, o trabalho e a luta iniciada por Mário de Andrade colaborou e muito para a construção de uma memória cultural, onde a arte folclórica, por assim dizer, não constava ou não tinha importância. Segundo ela, só nessa missão, com todas as dificuldades técnicas da época, quando era muito caro gravar ou fotografar, a equipe conseguiu registrar cerca de 1.500 melodias, e trazer 674 fotos, além de pequenos trechos filmados. “ Em cada cidade que aportavam, era um acontecimento, pois nunca se tinha pensado em algo parecido para os padrões da época”, comenta a professora.
 
Registro dos carregadores de Piano que cantavam enquanto trabalhavam
(foto: Luiz Saia)
A professora Flávia falou ainda das dificuldades em se manter o acervo da Missão de Pesquisas, especialmente após o afastamento definitivo de Mário de Andrade do Depto de Cultura, e da importância de cada funcionário que zelou por esse material com atenção especial, até que lhe encontrassem um local apropriado (pano de fundo da peça O Grande Grito). “Um acervo que ainda hoje inspira músicos e artistas pela riqueza, precisão e qualidade dos materiais coletados a respeito de nossa cultura, de nosso Brasil”, diz ela.Entre fonogramas raros e imagens captadas da época, a professora ilustrou a importância desse acervo que contém um panorama da cultura nacional, com modinhas, canções, ritos e tradições que já pediam preservação naquela época. Inclusive, a professora também revela a luta de Mário de Andrade na aprovação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) justamente visando a preservação da diversidade cultural brasileira.

Os debates sobre Mário de Andrade e seus trabalhos continuam no CCSP. Na próxima quinta-feira, 31/3, será a vez do debate - Mario e Macunaíma, com a Professora Mirtes Mesquita (atriz e mestranda na área de Teatro da USP). A conversa acontece após a apresentação especial de O Grande Grito, para escolas.

E parte do acervo (imagens) da Missão de Pesquisas Folclóricas também pode ser conferido na Exposição paralela à peça O Grande Grito, que está instalada no espaço Missão (acesso pela rua Vergueiro, na sala de vidro oposta à biblioteca-subsolo) de terça à sábado das 13h às 20h30 e domingo das 13h às 19h30.

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