Grupo Luz e Ribalta e elenco do Grande Grito lamentam a morte de Zé Renato
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Zé Renato dirigindo o elenco de O Grande Grito, fev/2011 |
Aos 85 anos, José Renato Pécora morreu no início da madrugada desta segunda-feira, 2 de maio, em São Paulo. Terminada a sessão de ontem de "12 homens e uma sentença", teatro Imprensa, ele foi jantar como de hábito no Planetas e de lá uma amiga, Ernê, foi ao Terminal do Tietê onde pegaria o ônibus da meia-noite para o Rio de Janeiro.
Segundo Ernê, ela o teria deixado na área de acesso ao terminal e, horas depois, recebeu ligação da enfermeira do Pronto Socorro de Santana, na Voluntários da Pátria, que localizou seu telefone no celular do próprio Zé Renato , comunicando a sua morte.
Após a sessão de domingo, o ator e amigo Oswaldo Mendes disse que se despediu do Zé Renato, na porta do Teatro Imprensa, e ainda brincaram que por pouco não viajariam juntos para o Rio, onde Oswaldo teria um compromisso de trabalho nesta segunda à tarde e na manhã de terça-feira. “Minha viagem já estava marcada para a manhã de hoje, segunda. Ele preferia sempre viajar à noite para amanhecer no Rio. Desta vez, um enfarte interrompeu sua viagem e seus muitos planos de trabalho.” Disse o ator em nota por e-mail, nessa manhã.
Um pouco mais de José Renato, segundo Oswaldo Mendes
Jose Renato Pécora voltou a atuar como ator depois de 56 anos, estava em um momento feliz. O sucesso de "12 homens e uma sentença" é, especialmente, o sucesso dele que, por ter feito a sua trajetória no teatro como diretor, desde que criou o Teatro de Arena, não tinha provado o reconhecimento das platéias, em especial dos muito jovens que assistem ao espetáculo. Reconhecimento que agora ele experimentou com uma alegria juvenil que nós, que dividíamos o camarim com ele, testemunhamos nesses sete meses de temporada.
O Zé ria, fazia e provocava piadas, formava o nosso coral que todas as noites desengavetava um repertório de músicas do passado, em exercício de puxar pela memória. Era assim o "aquecimento" e a "concentração" de rotina antes do espetáculo. Uma noite, de tanto rir das brincadeira do Riba, do Norival Rizzo e da Ieda, nossa fiel camareira, ele desabafou com um sorriso largo: "Vocês ainda vão me provocar um enfarte de tanto rir".
Na sessão deste domingo, ele trocou uma palavra do seu texto, que só o elenco percebeu. Em vez de dizer "o velho queria um pouco de atenção" ele disse: "o velho queria um pouco mais de tempo". Me fugiu a palavra, ele se desculpou sorrindo no camarim ao final do espetáculo. Pois é, tanto ele como todos nós queríamos um pouco mais de tempo para o nosso encontro. Não fomos atendidos. Fica em nós a saudade, que dói demais. Mas fica também a certeza de que José Renato marcou definitivamente o teatro brasileiro - e, em particular, marcou a vida e o caminho de cada um de nós.
Obrigado, Zé.
Do amigo e discípulo Oswaldo Mendes
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Zé Renato ao lado de Carlos Francisco, Theodora Ribeiro, Níveo Diegues,
Décio Pinto e demais do elenco, além da autora Gabriela Rabelo |
José Renato Pécora (*1926/+2011)
Biografia (fonte Itaú Cultural)
Diretor. Fundador e idealizador do Teatro de Arena, diretor do espetáculo Eles Não Usam Black-Tie, considerado divisor de águas, que introduz o nacionalismo no teatro brasileiro.
Ainda como aluno da primeira turma da Escola de Arte Dramática - EAD, em São Paulo, onde se forma em 1950, José Renato sugere o formato em arena para um espetáculo. O professor e crítico Décio de Almeida Prado oferece suporte teórico para a idéia apresentando-o ao estudo pioneiro de Margot Jones, Theater in The Round. José Renato e Décio escrevem, em colaboração com Geraldo Mateus Torloni, uma justificativa teórica para o projeto, apresentada como tese no 1º Congresso Brasileiro de Teatro, no Rio de Janeiro, em 1951.
No intuito de empenhar-se na experimentação do formato arena, articula uma companhia que a realize, fundando o Teatro de Arena de São Paulo, em 1953. A primeira montagem, sob sua direção, ocorre no Museu de Arte de São Paulo - Masp (ainda na Rua Sete de Abril), com Esta Noite É Nossa, de Stafford Dickens. O pequeno repertório formado nos anos subseqüentes apresenta-se em fábricas, clubes e escolas, até ser adaptada a sala que é sede do empreendimento, na Rua Teodoro Baima, em 1955.
Suas primeiras direções são exercícios, destinados ao encontro de uma estética em arena. Após a fusão com o Teatro Paulista do Estudante, TPE, o Arena aumenta seu contingente e ambiciona montagens mais relevantes, como Escola de Maridos, de Molière, em 1955. José Renato dirige Eles Não Usam Black-Tie, em 1958, lançando o primeiro texto de Gianfrancesco Guarnieri, germe do futuro Seminário de Dramaturgia. São direções suas, ainda no Arena, Revolução na América do Sul, de Augusto Boal, em 1960; e Os Fuzis da Sra. Carrar, de Bertolt Brecht, em 1962.
José Renato cumpre um estágio na França junto ao Théâtre National Populaire, TNP, de Jean Villar, retornando ao final de 1959, quando o Arena excursiona no Rio de Janeiro. Nesta cidade é contratado para dirigir o Teatro Nacional de Comédia - TNC, agora também inclinado no rumo da nacionalização do repertório, ali estreando Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues, em 1962, cuja direção garante a ele o Prêmio da Associação de Críticos do Rio de Janeiro. No mesmo conjunto, é o diretor de O Pagador de Promessas, de Dias Gomes, em 1963. Seguem-se outras produções, entre elas O Círculo de Giz Caucaziano, de Bertolt Brecht, e As Aventuras de Ripió Lacraia, de Chico de Assis, em 1963, levadas em repertório para todas as capitais do país.
Em 1964, inaugura o Teatro Ruth Escobar, com A Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht. Após o golpe militar, vai para Curitiba, onde ajuda a fundar o Teatro de Bolso, com a encenação de O Noviço, de Martins Pena, 1965. Com a extinção do TNC, Renato torna-se um diretor de produções isoladas. Em 1979 encena Rasga Coração, obra do amigo de longa data Oduvaldo Vianna Filho, um de seus maiores sucessos de crítica e público, num momento marcado pelo teatro de resistência.
Em 1970 ingressa como professor de direção teatral na Escola de Teatro da Fefierj, atividade que exerce até 1996, ao se aposentar. Dedicou-se também à dramaturgia, sendo de sua autoria: Plantas Rasteiras, prêmio de melhor autor da Academia Paulista de Letras; Escrever sobre Mulheres, encenada no Teatro Brasileiro de Comédia - TBC, 1951, e no Teatro de Arena, 1956; Ternura, encenada na TV Record, São Paulo, 1957; Visita de Pêsames; O Aniversário; Ano Bom em Família; Alguém Dormiu com Maria; sendo co-autor, juntamente com Paulo Pontes e Milton Moraes, de Um Edifício Chamado 200.
Depois de décadas ausentes dos palcos como ator, José Renato integrou em 2010 o elenco da peça Doze Homens e Uma Sentença e dirigiu O Grande Grito, de Gabriela Rabelo, 2011.
Mais informações
Galpão do Grupo Tapa: 11 3662-1488
O velório está previsto para ser realizado no Teatro de Arena
Rua Teodoro Baima, 94, Consolação, São Paulo. A partir das 17h.
O sepultamento acontece em 03 de maio - 10h - Cemitério do Morumbi.
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